Scortecci Editora - Poesia - Formato 14 x 21 cm - 1ª edição - 2018 - 96 páginas
PEIXE PAPIROBeatriz H. Ramos AmaralQual é a investigação poética de Beatriz H. Ramos Amaral que tanto nos atrai em Peixe Papiro? Para mim, é instigante vivenciar suas afirmações como “tudo é espiral neste começo” ou suas indagações como na “hipótese de concha e tempo” ou em seu pedido “que a luz teça a hipótese da sílaba”. Hipóteses poéticas que são experimentadas por meio de seu labor com a palavra, em complexas e belas homenagens à língua, como “no portal de anáforas um guia de vírgulas enrubesce a língua”. A poesia de Beatriz fala também de interlocuções responsáveis pela extremamente densa trama de sua rede de criação sob a forma de citações como em Latência: “na cauda de um/compasso, em seu lance de dados”, além das belas homenagens a Olga Savary, a Augusto de Campos e a Haroldo de Campos, seus tão respeitados amigos. Ao mesmo tempo, não dá para deixar de acompanhar com atenção o modo como a poeta se relaciona com a natureza. Convivemos com a poesia tirada dos musgos, mares, riachos, lagos e peixes. Na “pera escrita sem moldura como fruta”, vivemos sensações semelhantes à potência da estaticidade das frutas com moldura de Paul Cézanne. Enquanto que, no lindo poema sobre a Matéria, Beatriz vive a incansável busca pela essência, que me fez lembrar a angústia de Alberto Giacometti diante de suas limitações em seu modo de conhecer o mundo: a total impossibilidade de ver algo como se nunca tivesse visto antes.
Cecilia Almeida Salles - Professora Titular do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica – PUC-SP - Coordenadora do Centro de Estudos de Crítica Genética – PUC-SP