Sinfonia de Pardais
Myra Terra
SOCORRO Eu sou a Terra. Estou em perigo, peço socorro ao povo que é um mundão de gente, não sou atendida. Peço socorro aos santos, não sou atendida. Peço socorro aos deuses, não sou atendida. Ninguém me atende, ninguém. Estou só, jogada no espaço, estou perdendo as forças, caminhando para o fracasso, estou morrendo, ninguém escuta os meus brados, os meus chamados de socorro. Por que estão fazendo isso comigo, por que estão me matando? Só o demônio me atinge com grande satisfação, me abraça e me obriga a seguir a sua determinação. Não tenho sucesso em meus clamores aquele que os homens chamam bom Deus. Os próprios homens que oram para que Ele socorra os filhos bem-aventurados se entregam aos caprichos do demônio em seu trabalho de destruição. Rezam, rezam, pedem a sua proteção, ao mesmo tempo negam a pequena solicitação divina, preferem a oposição em profusão. Quem se diz dono meu, com direito a tudo, só me faz o mal. Eu sou o lar temporário de todos e ao mesmo tempo, perpétuo; já não posso fazer tanto bem. Estou esgotada, exaurida, espremida, meus brados não são ouvidos, meu choro não comove ninguém. Poucos prestam em mim atenção, por mim pouco fazem e se fazem é tudo em vão. Minha oração até hoje ninguém decorou, porque essa oração ninguém escutou e nem inventou. Os seres sofrem, choram, mas não atendem ao meu chamado, não percebem que eu sofro e choro também.
